Modificações no estilo de vida promovem envelhecimento saudável e saúde cerebral do idoso

A neuroplasticidade, também conhecida como plasticidade neuronal, é a capacidade do cérebro de se adaptar a mudanças por meio do sistema nervoso. Trata-se da capacidade dos neurônios no cérebro de mudar e reorganizar continuamente para atender às demandas dinâmicas do ambiente interno e externo. O estudo desenvolvido por Cristy Phillips mostrou como a atividade física, o envolvimento mental e a dieta alimentar promovem a saúde cognitiva durante o envelhecimento e são moduladores da neuroplasticidade, ou seja, contribuem para melhorá-la e aumentá-la.


O número de idosos ao redor do mundo será de aproximadamente 2.1 bilhões no ano de 2050. Acompanhando esse aumento virá a responsabilidade pessoal, social e econômica do cuidado aos indivíduos com transtornos relacionados a idade. Descobertas sugerem, que a atividade física induz mudanças neuroplásticas na estrutura do cérebro e função e, portanto, pode ser um componente eficaz para melhorar a cognição. Além disso, outros estudos sugerem que o envolvimento mental e fatores dietéticos também efetuam mudanças na plasticidade semelhantes aos implicados no processo cognitivo em resposta à atividade física. Essas mudanças no estilo de vida podem contribuir para o envelhecimento saudável e prevenir o aparecimento de doenças do coração (infarto, insuficiência cardíaca), diabetes, acidente vascular cerebral (AVC), entre outros.

       Diversos estudos mostram a relação direta e positiva entre o nível de atividade física mais elevado e melhor aprendizagem e memória e ainda, que atividade física regular reduz o risco de declínio cognitivo em adultos idosos, com algumas evidências sugerindo que exercícios na meia-idade, que tem início aos 35 e vai até os 58 anos de idade, podem ser especialmente benéficos por exemplo na: velocidade mais rápida de processamento das informações recebidas pelo cérebro, juntamente com melhor memória e função executiva (movimentar-se, ações voluntárias do corpo).    

    Ainda, evidências científicas sugerem que o envolvimento nas atividades cognitivas mentais também ocasionam benefícios neuroprotetores e neuroplásticos durante o envelhecimento. A cognição é uma função psicológica relacionada ao processo mental de percepção, memória, raciocínio, associação. Estudos mostraram que pessoas envolvidas em atividades e processos que exigem da cognição exibem um risco reduzido de declínio cognitivo com o envelhecimento. Essas atividades podem ser de lazer, por exemplo: leitura, grupos de discussão, resolver quebra-cabeças, tocar instrumentos musicais, jogar cartas e jogos de tabuleiro, aprender outras línguas; sociais como por exemplo: viajar, ir ao teatro, a concertos ou eventos de arte, participar de grupos sociais, socializar com a família e dançar.

    Subjacente aos efeitos cognitivos do envolvimento mental, de lazer e social, existe um conceito chamado “reserva”. A ideia do conceito de reserva cerebral deriva de estudos que mostram que a ocorrência de demência é menor em pessoas com pesos cerebrais maiores, isso é maior massa cerebral e volume, e que  pessoas que se envolvem em atividades intelectualmente estimulantes como quebra-cabeças, palavras cruzadas e sudoku, têm menor tendência de atrofia hipocampal (diminuição do tecido muscular de uma estrutura cerebral chamada hipocampo, responsável pelo aprendizado e memória) e demência com o envelhecimento.

         A alimentação é um comportamento que também tem potencial para modular a estrutura e função do cérebro. O que impulsiona esse comportamento é a demanda de energia: enquanto o cérebro compreende 2% do peso corporal total, ele consome 20% da energia total derivada de nutrientes. Evidências demonstram que o conteúdo nutricional, junto com o nível e a frequência da ingestão de alimentos, podem afetar positivamente na modulação da plasticidade sináptica ou seja na capacidade de fortalecer ou enfraquecer ao longo do tempo as respostas adaptativas do sistema nervoso frente aos estímulos percebidos alterando a neurogênese (processo de formação de novos neurónios no cérebro), inflamação, mecanismos de defesa antioxidante (inibir e/ou reduzir os danos causados pela ação deletéria dos radicais livres e/ou espécies reativas), níveis de neurotrofina (conjunto de proteínas que induzem a sobrevivência, desenvolvimento e a função dos neurônios) e metabolismo energético (conjunto de reações químicas que produzem a energia necessária para a realização das funções vitais dos seres vivos). É cada vez mais evidente que as substâncias bioativas – moléculas orgânicas associadas a mudanças de comportamento, fisiológica e no metabolismo – presente nos alimentos podem promover o envelhecimento saudável do cérebro e preservar a função cognitiva, especialmente em adultos idosos com risco de déficits nutricionais.  No geral, os idosos têm mais risco de déficits nutricionais por causa das alterações fisiológicas e declínio de algumas funções decorrentes do envelhecimento, maior uso de medicamentos juntamente com questões socioeconômicas ou psicológicas como a depressão.

       Ainda não se tem um tratamento efetivo para o declínio cognitivo relacionado à idade. No entanto, cada vez mais se compreende como a atividade física e a alimentação podem modular a saúde do nosso cérebro. Assim, esse estudo destacou a importância da modificação do estilo de vida para proteger a função cognitiva e saúde cerebral durante o envelhecimento, são necessários níveis mais elevados de atividade física e consumo de alimentos mais saudáveis para otimizar a plasticidade neural, ou seja, para que o cérebro tenha melhor capacidade de se adaptar a diferentes circunstâncias.

Fonte: Cristy Phillips, Lifestyle Modulators of Neuroplasticity: How Physical Activity, Mental Engagement, and Diet Promote Cognitive Health during Aging, Hindawi Journal, 2017.
Disponível em: https://www.hindawi.com/journals/np/2017/3589271/
Autoras: Cynthia Yumi Okano, Nutrição 2° período – Universidade Federal de Minas Gerais

Profª Dra Fernanda Barbisan- Universidade Federal de Santa Maria. Link para
Currículo lattes: http://lattes.cnpq.br/1428674947616182
Prof. Dr. Rafael Longhi Sampaio de Barros – Universidade Federal de Minas Gerais
Currículo lattes: http://lattes.cnpq.br/2878215146328476

https://portalcienciaeconsciencia.com.br/portal/2020/10/modificacoes-no-estilo-de-vida-promovem-envelhecimento-saudavel-e-saude-cerebral-do-idoso/

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